domingo, 1 de março de 2009

A IMORTANCIA DO LAR NA GENESE DA VIOLENCIA

A IMORTANCIA DO LAR NA GENESE DA VIOLENCIA ( PEQUENAS OPINIÕES)

Meraldo Zisman

TUDO COMEÇA EM CASA


Minha experiência parte do atendimento clínico e psicossomático de recém-nascido, criança, adolescente , jovem e dos seus pais por tempo maior de quarenta anos de pratica profissional


O movimento Psicossomático tem por dever despertar no Profissional de Saúde qualquer que seja a seu campo de atuação a cruzar os limites exclusivos do seu ofício para promover a Saúde, aqui entendida do seu sentido mais lato seja como saúde individual, coletiva e Ecológica. Mormente, quando se atua em um País de grande dimensão e de população continental, associado o formidável desnível regional ou social o profissional de Saúde deverá possuir uma formação mais humanística..

Assisto, aqui e agora, o esvaziamento dos consultórios privados e o alongamento das filas do nosso precário e sobrecarregado Sistema de Saúde Estatal — sobrecarregado, ainda mais, pela epidemia da Violência, não importando se de — auto/hetreroagressão.

Ressaltaria que tal fenômeno não é exclusivo da Medicina ou de um único saber, porém de todos os saberes da Humanidade e muito menos de um mero um tecnicismo que pretenda anular a pessoalidade do sujeito.

Partindo-se da premissa que um bebê necessita de um ambiente estável durante boa parte do seu crescimento (somático) e desenvolvimento (psicossocial) o psicossomatista está na posição singular para ficar a frente no combate da chaga histórica da — Violência. Não esquecer da vida intra-uterina; novo universo descortinado pela moderna Ciência é tão ou mais importante que passamos aqui na Terra.

AGRESSIVIDADE E VIOLÊNCIA

A agressividade é fundamental para a saúde. É o impulso para ação, para ir a busca de algo, para sair, mover-se. "Agressão" não é sinônimo de agressividade. Uma coisa é a iniciativa, a energia empregada num movimento, o uso livre da capacidade de desejar e tentar alcançar a coisa desejada. Outra coisa bem diferente é a hostilidade, a reação (ou ação) destinada a causar dano - ou seja, o emprego da agressividade com fins hostis. Agressividade. Advirto que o termo aggression serve para Freud designar tanto agressão como agressividade। Lacan por sua vez define violência :


É tudo aquilo que fere, destrói, agride ou machuca as pessoas, ações que não preservam a vida ou prejudicam o bem estar tanto individual quanto coletivo।


MÃE SUFICIENTEMENTE BOA / BERÇO ACOLHEDOR

Na definição ampliada de Donald Winnicott (pediatra e psicanalista inglês do século passado), cunhou o conceito de mãe suficiente boa.

Acredito que devamos ampliar tal assertiva, baseado na minha experiência de quarenta anos de pediatra.

Conceituou que para que exista uma mãe suficientemente boa (a que atende a demanda do seu filho sem exageros ou desencantos), carece para desempenhar de ser inserido um ambiente facilitador para que o impulso vital do bebê para a maturidade necessita, sobretudo de um ambiente seguro, estável e facilitador ao desenvolvimento do Ser.

O que este pediatra e psicoterapeuta, entende por mãe suficientemente boa (ou de quem faz de sua vez), reside na capacitada para atender a demanda do bebê. Fato que somente poderá acontecer desde que ela encontre segurança no pai e no “ambiente aonde vive”. A falta de um berço acolhedor dentro de uma mãe suficientemente boa tende a tornar a criança, o adolescente, o jovem ou adulto uma pessoa potencialmente violenta ou psicótica.


Para existir uma mãe suficientemente boa / um berço acolhedor, faz-se necessário um pai presente e uma ambiente social seguro. Crescer, desenvolver-se é uma tendência vital herdada, associada a um ambiente facilitador. Para existir uma mãe suficientemente boa e/ou um berço acolhedor, faz-se necessário um pai presente e uma ambiente social seguro.

Não existe uma mãe sem um seu bebê।


PRINCIPIO DO MENOR RISCO / MENOR DANO

Durante a Segunda Guerra Mundial o devastador efeito dos bombardeios alemães sobre Londres aumenta quando surgem os foguetes V2. O governo britânico temendo pela sorte de suas crianças resolve evacuá-las para lares e alojamentos no interior do país. Mas, tiveram a preocupação antes de anunciar essas drásticas medidas consultar dois médico de renome (ainda não reconhecidos internacionalmente que foram os Drs Donald Winnicott e John Bowbley).

Os mesmos opinaram que afastar crianças antes dos dois anos de idade seria uma ação danosa de realizar, desde que para um bom desenvolvimento da pessoa a ausência materna aumentava a possibilidade dos danos para a saúde mental de tais crianças (irreversíveis) ao nível de praticamente 100%, enquanto a chance de ser morta por bombardeios seria aproximadamente de 25% a 30%. O afastamento do materno e da família seria tão grave que melhor correr o risco de morrer pelos bombardeios das V2.

É compreensivo que as condições psicossociais do povo inglês fossem bem diversa da nossa, ainda que, por volta de 1942. Mas, o fato importante é que diante de situação calamitosa (o governo britânico), teve o bom senso de solicitar a orientação aos dois médicos destacados na área de Saúde Mentais, para regulamentar a execução de sua decisão.

ETERNOS CREDORES

Quando o ambiente e a Sociedade, devem algo a uma criança, sedo ou tarde terá que saudar o compromisso sob penas as mais severas.

A criança, o jovem que se sente lesado dirige seu comportamento para fora, daí o comportamento anti-social: os furtos, a agressividade exagerada e violência, são assemelhados a cobrança extorsiva que o nosso sistema bancário faz com os seus devedores. Que não passa de uma forma de violência como a carga tributaria que o nosso sistema bancário e Estado impõe ao cidadão brasileiro. (Custo Brasil)

A violência seria no meu entender a cobrança do povo e principalmente os de menores de mostrar sua indignação ou cobrança da nossa divida social.

O HOMEM

É um homem quem mata, é um homem quem comete ou suporta injustiças; não é um homem que, perdida já toda a reserva,compartilha a cama com um cadáver. Quem esperou que seu vizinho acabasse de morrer para tirar-lhe um pedaço de pão,está mais longe (embora sem culpa) do modelo do homem pensante do que o pigmeu mais primitivo ou do sádico mais atroz. Uma parte de nossa existência está nas almas de quem se aproxima de nós; por isso, não é humana a experiência de quem viveu dias nos quais o homem foi apenas uma coisa ante os olhos de outro homem.

Primo Levi



Ao longo de sua história, o Homem tem sido definido como homo sapiens, faber, laborans, ludens, politicus, religiosus, oeconomicus, privilegiando, cada uma dessas definições, uma dimensão humana.

A definição de homo violens, quando alguns pensadores ou filósofos consideram a violência uma da característica primordial, constitutiva do ser humano.

Para além de uma concepção eruptiva da violência como algo que explode, de forma repentina de imprevisível, e que se coloca do lado do desvario, do absurdo, da loucura, ou que se imagina como encarnação do mal e do pecado.

A hipótese de uma função estruturante essencial da violência, pois inexiste qualquer aspecto da realidade humana que não esteja a ela vinculada e descreve que a História é testemunha da violência que permeiam a sina do Homem durante as mais variadas épocas. (Dadoun, Roger), são atitudes pessimistas e pobres dos que lutam por um mundo melhor possam ser abalados por essas máximas

Quando a violência torna-se banal?

Observa-se freqüentemente que a eficiência do terror depende quase que completamente do grau de atomização social. Toda forma de oposição organizada deve desaparecer antes que a força total do terror possa enfraquecer.

Esta atomização é sustentada e intensificada através da ubiqüidade do informante, o qual pode literalmente estar onipresente, pois não se trata mais de apenas um agente profissional a soldo da polícia, mas potencialmente de qualquer pessoa com quem se entre em contato. ”“.

A esse respeito lembro uma citação de Hannah Arendt (1906-1975), — a filosofa se remete a um outro contexto— mas, tem a função de alerta:


Observa-se freqüentemente que a eficiência do terror depende quase que completamente do grau de atomização social. Toda forma de oposição organizada deve desaparecer antes que a força total do terror possa enfraquecer.

Esta atomização é sustentada e intensificada através da ubiqüidade do informante, o qual pode literalmente estar onipresente, pois não se trata mais de apenas um agente profissional a soldo da polícia, mas potencialmente de qualquer pessoa com quem se entre em contato.”“.


Nossa cultura tem como reputação em ser denominada: Era da Imagem, da Incerteza, Cultura do Espetáculo, Seus efeitos se revelam pela exposição de uma luta em vão dos homens contra seu desamparo e colocam por terra a ilusão do sujeito moderno de que haveria um lugar passível de certezas e garantias. Numa cultura que nos exige sermos assertivos, bem-sucedidos, afortunados, vencedor — em que o individualismo se torna mais palpável, o risco fantasmático da destruição e da solidão torna-se cada vez mais presente é a Civilização do:


Civilização do cinismo, da delinqüência, do narcisismo e da violência


A importância de promover um ambiente satisfatório ou das falhas ambientais, apontam que os riscos para a conduta anti-social da criança que sofria de privações precoces como uma maneira de pedir por uma mudança no ambiente.

O comportamento e atitude anti-sociais acontecem enquanto o Homem, desde quando criança tiver alguma esperança. Esperança de ver suas necessidades atendidas, mas, também, de poder contar com o outro, de poder ser amada, de poder construir um projeto de vida। Depois de um tempo, se não há respostas favoráveis, desaparece a esperança e a situação se cronifica tornando o seu manejo muito mais difícil, pois, ao penetrarmos na era da banalização da Violência à volta, tornar-se-á — dificílima. Tendo como pressuposto que a criança é o pai do Homem ficamos, a maioria, desbaratada dos fracassos das medidas corretivas tomadas contra a Violência. No dizer de Napoleão Bonaparte a criança que hoje nasça tem 200 anos de idade.


A CRIANÇA É O PAI DO HOMEM


CONCLUSÕES

Portanto de uma coisa tenho certeza que para diminuir a violência não é por medidas simples e muito menos policial ou judicial do governo ou da Sociedade. Foi-se o tempo de acreditar que pela melhoria de renda a violência seria aplainada. Não existe uma relação fixa de causa e efeito entre pobreza e violência. Está maneira de pensar, prefiro denomina-la de ingênua.

São pensamentos e ações pífias e que somente confundem a as camadas sociais brasileiras, mais apavoradas.

Esquecem que a vida em Sociedade, continua sendo a vida familiar o melhor espaço de aprendizagem.

A Família qualquer que seja as modificações trazidas pelo espírito do tempo (globalização, consumismo, imagem,etc) continua sendo o logos educacional das pessoas, de tal maneira que os filhas e filhos possam usá-las para aprender a viver em sociedade e também que possa ser fortalecida para quem contra ela se rebelar.


A prevenção da violência continua em Casa.


Apesar do grande respeito ao filósofo Arthur Schopenhauer (não concordo com muitos do seu pessimismo):


No inicio da juventude, quando contemplamos nossa vida vindoura, somos como crianças num teatro antes de a cortina subir, sentados lá e animados esperando ansiosamente o início da peça. É uma bênção que não saibamos o que vai realmente acontecer. Pudéssemos prevê-lo, haveria ocasiões em que as crianças poderiam parecer prisioneiros condenados, não a morte, mas a vida, e ainda inteiramente inconscientes de qual o significado da sentença


Compreendo quando acontece um caso de violência dormimos melhor com uma explicação. Freqüentemente, a procura da explicação revela mais sobre nós mesmos do que sobre o objeto de nossa investigação.

No caso do taciturno, calado, introspectivo atirador da Virginia Tech, ou no menino carioca arrastado por outros “de menores” em um assalto de carro, constantemente mencionado na Mídia, para logo cair no limbo de esquecimento, substituído por outra violência mais tenebrosa, explica o porquê: eu estou tão preocupado em esconder a minha agressividade que prefiro escondê-la em um turbilhão de palavras vazias e cordiais. O silêncio evoca tudo ou quase tudo que tento esconder, de mim mesmo, dos outros, pensando estar protegido por um muro erguido pela afetividade. Porém, quase nunca nos lembramos de determinadas pessoas, que mesmo no horror de uma tragédia fez a coisa certa? Não seria melhor estudarmos esses casos?



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