domingo, 1 de março de 2009

RETIRADO DO DO LIVRO PEQUENOS ESCRITOS DE UM MÉDICO
EDITORA LIVRO RAPIDO- Recife, 2007-PEÇA PELO SITE www.livrorapido.com.br

... FUI SER MÉDICO... HUMANISTA

Meraldo Zisman

Depois de longo tempo ouvindo, vendo e tratando crianças, dei por fé que, sem o envolvimento familiar, não se poderá praticar uma boa Pediatria. São os avôs, os tios, os padrinhos, os compadres e as comadres, os vizinhos e os aparentados que escolhem o pediatra para a criança. São os maiores palpiteiros do bem das nossas condutas e ações profissionais.

Ao examinar uma criança, você está sendo julgado e ajudado pelos seus atos. Muitos pediatras acham que os palpites são uma invasão - a sua sapiência, não, não são: apenas uma tentativa de uma mãe ajudar o pediatra a curar seu filho ou filha.

Para não abandonar ou ficar guardando na minha cabeça o muito que aprendi, prolonguei meus tempos de atividades, procurando permanecer junto aos meus ex-pequenos pacientes por mais tempo. Ao ficar por mais algum tempo ao lado deles e de seus familiares, passei a ser psicoterapeuta de jovem.

Atente que essa atitude não foi inteiramente, como tudo na vida, de moto próprio e, sim, quando dei por mim, estava virando conselheiro, amigo, confidente e fazendo psicoterapia "selvagem" dos meus antigos clientes e seus familiares. Resolvi, então, fazer cursos, aperfeiçoar-me e, como costumo repetir o aforismo "Criança Pai do Homem", não foi difícil para mim realizar esses intentos.

Outro fato que me tirou da ociosidade foi à vontade de escrever. Logo após ter realizado o concurso para titular de Clínica Pediátrica Médica para a Universidade de Pernambuco, fui conduzido à Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES/PE), através das mãos amigas, seguras e bondosas do professor Veloso Costa, onde aportei e fui muito bem acolhido; sem haver nada publicado, levando apenas o gosto pela Literatura. Em época de vida em que novas amizades são quase impossíveis de acontecer, encontrei, na SOBRAMES/PE, novos afetos. Amigos, na idade em que os amigos escasseiam e/ou ficamos mais seletivos ou impertinentes. Fatos os quais tornarei no capítulo intitulado Epílogo.

Fui também muito ligado ao psicanalista José de Almeida Lins, que trouxe a Psicanálise para a Região Nordeste e ao psiquiatra e psicossomatista Samuel Hulak, a quem devo os ensinamentos de como me tornar um psicoterapeuta e psicomatista de jovens. Considero-o um irmão. A experiência e a escola do tempo e as sábias orientações desse companheiro ajudaram-me a largar de ser um médico organicista, prepotente e curei-me do academicismo e das buscas de titulações e penachos universitários, para me tornar, cada vez mais, um profissional de Saúde Para ajudar o paciente, apenas isso... Repito, devo muito do que sou agora a esse mestre da Psicossomática Nacional. O seu entusiasmo pel movimento psicossomático foi, e é, mais que um estimulo a divulgação e humanização dos profissionais de Saúde do Brasil.

Eu conto mais: Quanto mais a tecnologia médica cresce, mais as regras do mercado vão desumanizando a profissão. Quando, na verdade, seria necessário o ensino de noções psicossomáticas ou mesmo a criação de uma Disciplina de Psicossomática que transpassasse todo currículo da formação médica e dos demais profissionais da Saúde.

Como ensina Samuel Hulak, fazer humanização da Medicina é redundância: Ela já nasce humanizada. O que é necessário é humanizar o médico.

Cada doente é um novo desafio. Assim como, para o escritor, é uma página em branco. Ambas são jornadas misteriosas.

Valho-me do dito latino pela pertinência Scribitur ad narrandum non profandum (Escrever para narrar, não para provar).

Para isso, nada melhor que a ajuda pela Literatura.

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