sábado, 24 de abril de 2010

PEDOFILIA


PEDOFILIA

MERALDO ZISMAN
PSICOTERAPEUTA DE JOVEM



A sociedade, como tudo que a envolve - crianças, adolescentes, cultura, sexo e religião - faz do assunto pedofilia uma matéria sensacionalista. Por sua vez, a mídia reflete o que o publico deseja assistir. Este é seu papel e dever: vigiar, informar, denunciar. Como todos os atos e engenhos humanos, ela possui falhas e virtudes. No meu entender, porém, sem liberdade de imprensa morreremos todos por asfixia.
Quando o caso é o celibato da Igreja Católica Romana (do qual não sou defensor por razões, até, fisiológicas) e a pedofilia, nada me impede, como um psicoterapeuta de origem judaica, de não enxergar alguma relação entre padres portadores deste distúrbio e, muito menos, de entender a comparação desastrada desta patologia com o preconceito anti-judaico. Preconceito este que levou à Inquisição, aos pogroms (palavra russa que significa "causar estragos, destruir violentamente. Historicamente, o termo se refere aos violentos ataques físicos das populações européias contra os judeus, tanto no império russo quanto em outros países), e que culminou com o Holocausto.
Dado às minhas raízes judaicas, eu considero um absurdo a comparação que se faz, atualmente, à Igreja Católica, associando as críticas aos padres pedófilos com as ações dos anti-semitas contra o povo hebreu. Quem assim pensa desrespeita tanto as crianças abusadas sexualmente, quanto os seis milhões de judeus que foram mortos e queimados nos fornos crematórios nazistas.
Dito isto, aviso a quem me lê, agora, e não me conhece. Exerço a Pediatria e a Psicoterapia, há mais de 50 anos e lembro ser ela um transtorno de personalidade e de preferência sexual que se caracteriza pela escolha sexual por crianças, quer se trate de meninos ou meninas, geralmente pré-púberes ou no início da puberdade. Conferir: CID-10 - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde -, Organização Mundial de Saúde (OMS). O DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorder utiliza a classificação dos transtornos mentais da Associação Americana de Psiquiatria, que condiciona o diagnóstico deste transtorno mental às pessoas com idades de 16 anos ou 17 anos que são, pelo menos, 5 anos mais novas do que as crianças abusadas.
O portador de tal perturbação tem pensamentos e fantasias eróticas repetitivas, ou atividade sexual com crianças menores de 12 ou 13 anos de idade. A pedofilia está comumente associada a casos de incesto: a maioria dos casos envolve pacientes da mesma família (pais/padrastos com filhos e filhas). Via de regra, o ato pedófilo consiste em toques, carícias genitais e sexo oral, sendo a penetração menos comum.
Com a expansão da internet, tem sido mais freqüente a presença de pedófilos que apreciam fotos de crianças, com a finalidade de se excitar e/ou se masturbar. No meu entender, a história da pedofilia não deve incluir, apenas, o escândalo dos padres católicos (0,6% dos clérigos). Tampouco na falsa associação com o Holocausto, ou no esquecimento deste. Solicito uma trégua. Não escrevo esta crônica para me indignar. Tento contribuir para o debate do momento, com observações sugeridas pela Psicopatologia e pela clínica de Pediatria.

Publicado no Direto da Redação e Diário de Pernambuco.

Pediatra Fernando Azevedo


Pediatra Fernando Azevedo
Meraldo Zisman
Psicoterapeuta de Jovéns


No dia 24 de março de 2010 recebi o seguinte e-mail:


“Meus Caros Amigos,

A Associação Médica de Pernambuco comunicou-me, ontem, que fui escolhido para ser homenageado, juntamente com dois outros colegas, no dia 6 de abril, às 20 horas, e receber, nessa reunião, a medalha de condecoração Maciel Monteiro. Sinto-me honrado com a homenagem e, feliz, com a presença de vocês. Um abraço.”

O texto não estava assinado. No entanto, diante daquela mensagem, ressalto que meu contentamento foi grande. Meu caro Fernando, independentemente da amizade que lhe tenho, para mim, você é e será, sempre, o pediatra que os outros recomendam, assemelhando-se ao médico pernambucano, patrono da comenda que lhe será outorgada.

Permitam-me, leitores, rememorar o patrono Maciel Monteiro (Antônio Peregrino M. M., 2º. Barão de Itamaracá), o médico, jornalista, diplomata, político, orador e poeta, que nasceu no Recife/PE, em 30 de abril de 1804, e faleceu em Lisboa/Portugal, em 5 de janeiro de 1868. Ele é o patrono da Cadeira no. 27, escolhido pelo fundador Joaquim Nabuco. Meu caro homenageado: como você foi cordato, alegre, distinto, delicado, amável, diplomata, e, sobretudo, pernambucano! Essa foi a impressão que deixou, aonde nós aprendemos a difícil Medicina Infantil, no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro. Tivemos os mesmos mestres e somos irmãos de profissão.

No presente, mesmo dedicando-me à psicoterapia, é grande a minha exultação ao ver você receber tamanha distinção! Em que peito, mais nobre que o seu, a medalha do Barão de Itamaracá poderia ter mais altiva guarida?

Fernando Azevedo, você é nobre em origem e sentimentos. O seu dom mágico, de vivenciar com tamanho carinho e competência a relação médico/criança/família, é logo percebido pelas mães. Seu consultório é o mesmo: sempre repleto de brinquedos e de amor. Você sabe melhor do que ninguém que, o trabalho das crianças, é o eterno brincar; e que, brincando, é que elas apreendem o mundo. Poucos são os adultos que têm consciência disso!

Como você, alguns conservam a criança que existe dentro de nós. Por essa razão, a Medicina Pernambucana, ao prestar essa homenagem, estende os parabéns, ainda, àqueles médicos vocacionados que exercem a profissão com amor. Ao lhe outorgar a medalha de condecoração Maciel Monteiro, a Associação Médica de Pernambuco está de parabéns! Meu caro Fernando Azevedo, muito obrigado por permitir que eu seja seu amigo!

*Crônica publicada no Diario de Pernambuco em 4 de Abril de 2010




O MOLHO DE MAIONESE


O MOLHO DE MAIONESE

Meraldo Zisman

Psicoterapeuta





O gênero humano jamais poderia imaginar que os e-mails viriam abrandar a solidão dos anciãos. Mas, vamos aos fatos. Dia desses, resolvi abrir todas as mensagens que me enviaram. Ao todo, foram 167! Levei quase um dia completo para abri-las, e, findei, lacrimejando os olhos e com dores nas costas. Fora aqueles, apaguei, também, os e-mails suspeitos de conter vírus.
Dentre os e-mails, havia um, de um conhecido meu, contando como foi inventada a maionese. Vinha em anexo: Uma das primeiras vitórias francesas durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), contra os ingleses. A mensagem expunha a conquista da ilha de Menorca, nas Baleares, até então dominada pelos britânicos, que, em 1708, a haviam tomado dos espanhóis. No dia 17 de abril de 1756, as sentinelas inglesas de Menorca avistaram, no horizonte, 197 velas. Elas representavam a frota fr ancesa, comandada pelo Almirante La Galissonière, e, em cujo navio (chamado Foudroyant) se encontrava o Duque de Richelieu - Louis François Armand Vignerot du Plessis (1696-1788) – o comandante das forças de desembarque.
Conquistada a ilha, o Duque visitou Puerto Mahón, capital de Menorca. Foi lá onde conheceu um molho feito com azeite de oliva e gema de ovo, que os nativos usavam para temperar peixes. O nobre gostou tanto dele que levou a receita para seu país. Chamou o molho de sauce mahonnaise ou molho de Mahón. Logo, ele ficou conhecido como salsa mayonesa, em países de língua espanhola, e passou, para a língua po rtuguesa, como “molho de maionese”.
Já uma outra versão ressalta que a maionese foi inventada, em 1756, pelo cozinheiro chefe do Duque de Richelieu. Após derrotar os ingleses em uma batalha, na cidade portuária de Mahon, foi organizado um banquete onde seriam preparadas receitas à base de ovos e leite. Quando o cozinheiro percebeu que não havia mais leite, decidiu substituir o ingrediente por azeite, misturado com ovos, o que resultou em um novo molho. E em homenagem à vitória daquele Duque, o molho foi denominado mahonneise.
Ao acabar de ler o e-mail, respondi ao meu conhecido que ele estava enganado, e que a história da maionese era outra, relacionada à retirada, da Rússia, do exercito de Napoleão. O imperador tinha achado estranho um soldado, de sua guarda pessoal, não reclamar da ração diária recebida. Isto porque, de vez em quando, recebia um ovo cru e, ao invés de aborrecido, ficava muito feliz. Intrigado com o soldado, Napoleão procurou saber o motivo daquela alegria. Ao que o soldado respondeu: “Sir, eu bato o ovo cru com azeite e um pouco de farinha de trigo, e fica uma delícia”. Dessa forma foi inventada maionese. Dizem ainda que, chegando a Pari s, aquele soldado abriu um bistrô onde a maionese se tornou o carro-chefe. Ele patenteou a descoberta e as fabricas de maioneses, até hoje, pagam royalties aos seus herdeiros.

*Diario de Pernambuco em 11 de março de 2010

PASSEI NO VESTIBULAR


PASSEI NO VESTIBULAR

Meraldo Zisman
PSICOTERAPEUTA




Choram os docentes, do alto e do baixo clero universitário, ativos e inativos (aposentados). Coincidentemente ou não, escrevo estas linhas em uma terça-feira de carnaval, quando a folia já está mais perto de baixar, e os nobres e a plebe, os ricos e os pobres, os governantes e os eleitores retornam à realidade do cotidiano. Quero lembrar, aqui, o estudante Alcides do Nascimento Lins, assassinado no dia 5 de fevereiro de 2010, aos 22 anos de idade, e perguntar aos meus leitores: de que vai adiantar a morte dos Alcides, junto àqueles que driblam a miséria e passam no vestibular?
Podem verter enxurradas de prantos, homenagens, crônicas, reportagens, missas, atos públicos, que de nada adiantará. Minha tese, acreditem, é a de que falta Educação no Brasil. Isto porque, em verdade, os poucos jovens marginalizados pela pobreza que chegam à Universidade e rompem a barreira da miséria são mortos, assassinados, moral ou fisicamente, cedo ou tarde, como o Alcides, filho de uma catadora de lixo.
A maioria daqueles jovens ainda acredita em nós, professores, quando dizemos: “estudem bastante para poder sair da miséria material e mental, e, desse modo, poderão ser aproveitados no mercado de trabalho”. É triste o país que faz dos seus jovens as maiores vítimas das mortes matadas, das mortes morridas, das mortes não vividas, os mártires das injustiças psicossociais. O assassinato em questão não ocorreu dentro dos muros universitários!
Quem pensa que o problema de Educação se resolve, exclusivamente, dentro das escolas, está enganado. É equivalente a um nobre, na Idade Média, julgar estar protegido do clamor dos súditos, por meio de fossos, muros, ou pontes levadiças nos castelos. Como os poderosos podem pensar em ter, como defesa do poder, o uso da tecnologia, sem melhorar a condição humana?
Não importam os tipos de defesas, as cercas eletrificadas, os sensores, as câmaras de vigilância, a internet, as seguranças particulares, todos esses paredões de nada valem quando a injustiça social penetra nas paredes de taipa de uma escola do interior, ou nos muros da Universidade. E há quem acredite, ainda, que a escola é o segundo lar, quando se sabe que o primeiro jamais existiu. O jaleco que a mãe de Alcides vestia, no dia em que foi à delegacia para depor, é o emblema da enganosa política sócioeducativa e caritativa brasileira.
Quando é que vamos entender que um diploma não é um passaporte para a cidadania?
Um dos sambas que Martinho da Vila canta continua sendo bastante atualizado: Felicidade! Passei no vestibular, mas a faculdade é particular. Particular, ela é particular; particular, ela é particular... Livros tão caros, tanta taxa prá pagar; meu dinheiro muito raro, alguém teve que emprestar...
Dizem que o Brasil é um país sentimental, além de ser musical. Seja lá como for, é importante deixar claro que lágrimas não servem para ressuscitar ninguém. É preciso muito mais do que isso!

*CRÔNICA PUBLICADA EM 25 DE FEVEREIRO DE 2010:
DIARIO DE PERNAMBUCO - CADERNO OPINIÃO
E DIRETO DA REDAÇÃO

EM DEFESA DE UMA CERTA ANSIEDADE


EM DEFESA DE UMA CERTA ANSIEDADE

Meraldo Zisman
Psicoterapeuta



A ansiedade pode ser sinal de coisa boa? Desde que o mestre Sigmund Freud afirmou ser a causa das neuroses, ela passou a ser vista como maligna, quando deveria ser considerada como uma das defesas para a perpetuação da espécie. Os dicionários definem ansiedade como uma sensação de aflição, receio ou agonia, sem causa aparente; inquietação ou impaciência acarretada por desejo ou vontade, traduzido por um estado afetivo penoso, pela expectativa de algum perigo que se revela indeterminado e impreciso, e diante do qual o indivíduo se julga indefeso. A maioria dos psicólogos considera a ansiedade como uma atitude emotiva concernente ao futuro, marcada por vaivens entre o medo e a esperança.
Acredito que qualquer que seja o conceito atribuído, ele deveria ser encarado de outra maneira, antes de ser tido como patologia. A ansiedade muda com o “espírito da época”, ou seja, com o conjunto da atmosfera intelectual e cultural vigente, em determinada fase da História. Os exemplos são numerosos. No século passado, por exemplo, a ansiedade estava associada ao problema do holocausto atômico - o Day After, tema que atemorizava a todos.
Passada a Guerra Fria, a ansiedade ficou associada à questão do desemprego, das crises econômicas, dos terremotos, do aquecimento global, da poluição, do terrorismo, da violência, das migrações, das guerras localizadas, entre outros problemas que sensibilizam ou venham a sensibilizar. E os meios de comunicação, em particular, sabem como ninguém comandar as ansiedades da ocasião.
Considerando-se a ansiedade, por si só, creio que, para o homem das cavernas, o medo do aparecimento do tigre de dentes de sabre deve ter sido bem mais estressante, do que hoje, o medo dos assaltantes e bandidos. O mecanismo referente ao estresse permanece o mesmo. Em outras palavras, diante do perigo, todos nós somos iguais. O grau de resposta é que varia de uma pessoa para outra.
No século XVI, o maior medo era o de ser queimado vivo, por problemas de crenças religiosas (como a Inquisição), dívidas, ou doenças como a peste negra. Quanto aos açoites e torturas, estes permanecem no tempo. O medo de errar, de se sentir culpado, frustrado ou envergonhado, fazem parte da condição humana. Desconheço civilização onde alguém sobreviva sem sentir algum grau de ansiedade. Contudo, ela passa a ser um problema quando atinge um estado psíquico de intranqüilidade permanente, de agitação, de temor diante de uma ameaça real ou imaginária. Ainda assim, só será problema para quem acha que ela é um problema. E esses não estão adaptados para viver a vida de uma maneira menos ansiosa (devido a causas psíquicas ou fisiológicas).
Será que os evolucionistas não percebem que, na luta vital contra os predadores, a presença de indivíduos, apontados como ansiosos, foi decisiva? A ansiedade foi e continua sendo uma necessidade adaptativa à sobrevivência da espécie. O problema é saber delimitar seu diagnóstico. Faz-se necessário cuidado com as rotulações do poder médico. Quantos gênios não estariam confinados em manicômios, se a ansiedade fosse considerada uma patologia?

SALVEMOS OS PEDIATRAS E O HAITI


SALVEMOS OS PEDIATRAS E O HAITI

Meraldo Zisman

Psicoterapeuta




Apesar de a notícia da vez ser o terremoto do Haiti, tragédia merecedora da Solidariedade Humana e outros bla-blas, estranho é o fato de a mídia nacional, sempre tão atuante, não mencionar, nem de raspão, a falta de pediatras para atender aos brasileirinhos. Quantos leitores sabem deste fato? A Sociedade Brasileira de Pediatria, no meu tempo de atividade a mais numerosa entidade médica do Brasil, denuncia que um dos carros-chefes do Ministério da Saúde, o Programa Saúde da Família, não valoriza o profissional de Pediatria. O problema atinge, até, a nossa Versalhes (Brasília). A cena de Dante dos hospitais públicos repete-se na esperas pediátricas da rede particular. Não quero dizer que esse seja, exclusivamente, o motivo, mas como a maioria das crianças não ne cessita de procedimentos complexos nem de exames complementares, não há lucro pecuniário como, por exemplo, na Cardiologia, onde a consulta exige, no mínimo, um teste de esforço e um eletrocardiograma, cujo valor pode saltar para até R$ 200. Estou escrevendo enfatizando o lado econômico, pois a expropriação da Medicina é um fato na Sociedade atual. Democraticamente, a bagunça da medicina nacional (da criança), atinge precocemente tanto o setor publico quanto o setor privado — democraticamente.
Os acadêmicos de medicina, sabedores de como funciona o mercado de trabalho que irão enfrentar, optam por outras áreas, mais rendosas, que exigem melhor remuneração e menor dedicação: cirurgia plástica, dermatologia, oftalmologia, radiologia — sintomaticamente as mais procuradas nos concursos para a residência médica. Como professor titular aposentado pioneiro da Neonatologia Brasileira resta-me acautelar a quem de direito: da maneira como o barco vai, a Pediatra Brasileira é um animal em extinção. Como antigo Pediatra (hoje, sou psicoterapeuta), advirto: a criança é o pai do Homem e o pediatra seu advogado. E como (TUDO INDICA) iremos mandar equipes médicas para atender a vitimas do terre moto do Haiti, como seriam tais equipes, sem médicos de criança? Talvez esforços feitos para a não extinção desses especialistas sejam um bom elemento de marketing para a campanha nacional da crônica candidatura do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. É uma simples lembrança e uma sugestão de um médico de província. Desculpem qualquer coisa... de falar de política externa.

ARTIGO PUBLICADO NO DIARIO DE PERNAMBUCO - CADERNO OPINIÃO - PAG, A 19 - RECIFE, QUINTA FEIRA, 28 DE JANEIRO 2010

ONIOMANIA


ONIOMANIA

Meraldo Zisman
Psicoterapeuta de Jovéns


A palavra oniomania significa mania de consumir, compulsão em comprar. Até hoje, na verdade, não se sabe se essa epidemia torna-se mais intensa devido à tradição natalina, ou se é impulsionada pela da esperança de renovação, que surge em cada véspera de Ano Novo. Nesta época, a febre de consumo toma conta das pessoas, nas catedrais da modernidade - os grandes shoppings centers - e eles ficam abarrotados de “fiéis”, compelidos pela ânsia de presentear os familiares e amigos.
A mania que se encontrava latente pode eclodir, até, nas pessoas menos predispostas ao consumismo. Cabe aqui um alerta: não devemos esquecer os “surtos” menores, impulsionados, também, pelo comércio, a exemplo do Dias das Mães, do Dia dos Pais, do Professor, da Sogra, da Mulher, da Secretária, entre tantos outros. Sentir necessidade de comprar é um sinal de doença. Estourar o orçamento, repetidas vezes, representa um vício semelhante ao alcoolismo. Esse distúrbio não é novo. Dizem que teve seu início na Grécia Antiga, após a invenção do dinheiro e do surgimento do status (o conjunto de direitos que possuem aqueles que têm poder de barganha). Não raras vezes, a ação de comprar promove grande sensação de prazer, que acarretam em descargas de endorfina.
No principio do século passado, dois psiquiatras - o alemão Emil Kraepelin (1856-1926) e o suíço Eugen Bleuer (1857-1939) - foram os primeiros a escrever sobre a questão da compulsão por comprar, ou oniomania, uma dificuldade para controlar o impulso de adquirir bens materiais. O distúrbio psicossocial tornou-se cada vez mais global, apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) não incluí-lo na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10). Somente na década de 1990 surgiram alguns artigos sobre o assunto. Devido à gravidade pandêmica do distúrbio, vale questionar se esse comportamento ainda não foi incluído, como doença, pela OMS, em decorrência do poder do mercado consumidor. Será, também, que, devido às pressões exercidas pelo mercado, a importância psicossocial da oniomania vem caindo no esquecimento da literatura especializada?
Dificilmente se encontrará, na Medicina, remédio, diagnóstico ou tratamento para tal patologia. Ela vem sendo muitíssimo bem alimentada, a cada ano que passa, pelas sociedades que incentivam o consumismo, o narcisismo, o egocentrismo, em detrimento de outros valores e comportamentos. E, nessa lógica diabólica, ter que comprar, ter que presentear torna-se imprescindível. As pessoas se endividam e adquirem todas as mercadorias produzidas que foram transformadas, por parte do mercado, em bens fundamentais. Ou seja, não importa o que se compre: o mais importante passou a ser o próprio ato de comprar! E, cada vez, mais...



O MELHOR PRESENTE DE NATAL E ANO NOVO


O MELHOR PRESENTE DE NATAL E ANO NOVO

Meraldo Zisman


O ano de 2010 se aproxima. Será um ano eleitoral. Vamos escolher novos (ou, os mesmos) governantes. O Sistema Republicano, mais conhecido como Democracia, exige, entre outras coisas, a alternância do Poder. Isto seria a melhor forma de governo, o que concordo plenamente! Mas, como tudo que é inventado pelo Homem, tem pontos fracos e, um deles, diz respeito ao seu calcanhar de Aquiles: o Colégio Eleitoral. Quem o elege? E, quem são os eleitores?
Como profissional da área de Psicologia, vejo, com grande apreensão, o aumento da influência da tecnologia midiática nas próximas eleições brasileiras. O exemplo de Joseph Goeb bels (1897 -1945) representa um fato histórico marcante. Recordo aqui, para quem não se lembra: ele foi o Ministro do Povo e da Propaganda da Alemanha Nazista. Em outras palavras, controlava todos os meios de comunicação de massa, tais como r ádios, livros, revistas, jornais, teatros. Se, na época, isto teve um impacto terrível, imaginem os leitores tal fato ocorrendo, hoje, quando os marqueteiros politicos dispõem de elementos bem mais modernos, como televisão, blogs, tweeters, entre outras parafernálias eletrônicas presentes.
Os meios de comunicação de massa – industrialmente, muito bem estruturados - atingem todas as classes sociais e, em particular, as menos favorecidas, que são as mais vulneráveis. Isto significa que as mensagens produzem, na mente dos espectadores, efeitos diversos, de acordo com sua condição psicossocial e cultural. Principalmente aquelas veiculadas pela televisão, que atingem a maior parte da população: a que possui menor grau de escolaridade.
Com frequência, não nos damos conta de que a mente produz decodificações (a passagem de uma linguagem codificada para uma mais comum e acessível) necessárias para a compreensão imediata do que está sendo transmitido. Assim sendo, a televisão chega às mentes e aos lares sem pedir licença e sem qualquer censura. O que se observa na tela vai direto para o lobo frontal e se instala, também, no inconsciente. Tudo se passa como se as pessoas vivessem em um gigantesco big-brother.
É oportuno salientar, por uma questão de justiça, que a mídia pode vir a ser a maior guardiã da Democracia. Contudo, seu poder é tamanho que, o país, corre o risco de pertencer, tão-somente, aos detentores dos meios de comunicação.
Neste dezembro de 2009, e no ano eleitoral que se aproxima, o povo brasileiro merece ganhar um verdadeiro presente de Natal e Ano Novo: uma blindagem de Moral e Ética construída pelos profissionais de Jornalismo. É somente isso que este psicoterapeuta - pernambucano e judeu - pede a Papai Noel para o Brasil. Seria o melhor presente cívico já proporcionado à Nação!



ADESG - Rotary Clube-- Encruzilhada e Caxangá



ATIVIDADE DE ADESG

Rotary Clube-- Encruzilhada e Caxangá

20 de novembro de 2009


Senhoras e Senhores: até quando vamos nos calar?

Meraldo Zisman



Fui convidado pelo rotariano Pedro Brasil, estagiário do XXXVI Curso de Estudos de Política e Estratégica – CEPE, da Delegacia da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), para falar sobre assuntos referentes à brasilidade, no mês da Proclamação “Oficial” da República: dia 15 de novembro de 1889. Vênia para dividir minha fala em três vertentes: a) ESG/ADESG; b) Proclamação da República; e c) Pernambuco. Peço licença para empreender uma breve digressão e registrar que, todo e qualquer episódio, da História, possui datas e acontecimentos emblemáticos, seja a Queda da Bastilha, a Derrubada do Muro de Berlim, ou a 2ª. Guerra Mundial.
Destaco, em primeiro lugar, a importância do convite do Rotary. Meus agradecimentos pela honra e a oportunidade de fazer-me presente junto àqueles que integram o Rotary Clube do Caxangá e da Encruzilhada. E afirmar que, aqui, tenho o prazer de encontrar e reencontrar tantos rostos já conhecidos. Como, no momento, estou Delegado da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, peço licença aos prezados rotarianos, convidados e convivas, para fazer um breve histórico dessa Universidade, cuja função precípua é estudar o Brasil.

a) ESG/ADESG- Há sessenta anos, o então Presidente da República Eurico Gaspar Dutra criou, através de uma resolução legislativa, a Escola Superior de Guerra (ESG). Integrante da estrutura do Ministério da Defesa, e destinada a desenvolver e a consolidar os conhecimentos necessários ao exercício de funções de direção e assessoramento superior, para o planejamento da Defesa Nacional, dentre os seus ensinamentos estão incluídos aspectos fundamentais da Segurança e do Desenvolvimento do país. A ESG é um Instituto de Altos Estudos de Política, Estratégia e Defesa, cuja função é estudar o Brasil em todas as suas expressões.
Por sua vez, a Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) foi fundada no dia 7 de dezembro de 1951, por Diplomados do Curso Superior de Guerra, da turma de alunos de 1950, da ESG. Sua estrutura é composta por uma Administração Nacional, situada no Rio de Janeiro; por vinte e nove Delegacias (sendo vinte e sete localizadas nas capitais das Unidades Federativas e, duas, no Triângulo Mineiro); além de cerca de cem Representações, em cidades importantes de nosso país, que contam com, aproximadamente, 80.000 associados em território nacional. Até o presente momento, a ESG diplomou em torno de 8.000 integrantes.
O papel da ADESG é de extrema relevância. Como ela possui grande capacidade de projeção no país, seus preceitos são difundidos por meio de Cursos de Estudos de Política e Estratégia (CEPE), bem como de outras atividades sociais e culturais, que são promovidos, a cada ano, com o apoio da ESG. Nossa missão, no aqui e agora, é estar e continuar presente na dinâmica da vida da Nação.

b) Proclamação da República

Oficialmente, a República foi proclamada no dia 15 de novembro 1889, na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império. Esta é a data oficial e emblemática, tal qual o grito de Independência.

c) Pernambuco

No período de trinta e um anos, ocorreram três revoluções em Pernambuco: a de 1817, conhecida como Revolução Pernambucana (ou dos Padres); a de 1824 (conhecida como Confederação do Equador); e a Revolução de 1848 (chamada de Praieira). Após essas revoluções, sofremos grandes amputações em nosso território, onde perdemos mais da metade das terras. Isto sem falar nas perdas sociais, com milhares de revolucionários e combatentes mortos porque traziam como bandeiras os ideais republicanos, tecidos pela Revolução Americana de 1776, e pela Revolução Francesa de 1789. Naquelas manifestações sociais, a mentalidade coletiva dos pernambucanos se fortalecia com os ideais do Federalismo, um rio caudaloso que corria nas veias de Frei Caneca, do General Abreu e Lima, e do pensamento moderado de Gervásio Pires.
Tomando a Revolução de 1817, como exemplo, gostaria de relembrar o seguinte. No começo do século XIX, Olinda e Recife, as duas maiores cidades do Estado tinham, juntas, cerca de 40.000 habitantes (comparados com os 60.000 do Rio de Janeiro, capital da Colônia). O Porto do Recife escoava a produção de algodão, e grande produção de açúcar, oriunda de centenas de engenhos da Zona da Mata. Em outras palavras, Pernambuco possuía uma grande importância econômica e política, e os pernambucanos participaram de várias lutas libertárias. A primeira (e mais importante) foi a Insurreição Pernambucana, em 1654. Depois, veio a Guerra dos Mascates, e a possibilidade da proclamação da independência de Olinda. Na Cidade Alta, de Olinda, lê-se uma placa com os dizeres: Aqui, em 10 de novembro de 1710, Bernard o Vieira de Melo deu o primeiro grito em favor da fundação da República entre nós. O Hino de Pernambuco, em seu verso de número 4, registra o fato, no seguinte poema:

A República é filha de Olinda

Alva estrela que fulge e não finda

De esplender com seus raios de luz.

“Liberdade”, um teu filho proclama:

Dos escravos, o peito se inflama,

Ante o sol dessa terra da Cruz!”



Em 1981, o Prefeito Germano Coelho, através de um Decreto, concedeu a Bernardo Vieira de Melo o título de Precursor da República no Brasil e nas Américas, título que corresponde àquele dado a Tiradentes, com relação à Inconfidência Mineira. O povo de Pernambuco é, antes de tudo, forte e corajoso, no enfrentamento das adversidades.

BULLYING EM PERNAMBUCO


BULLYING EM PERNAMBUCO

Meraldo Zisman


Acontece um reboliço em nossa cidade. Bullyng é a sua manchete. Seria, por acaso, alguma nova pandemia da gripe suína? Calma, leitor. Deixe-me explicar.
O verbete inglês bullying (intraduzível palavra para o nosso vernáculo) é empregado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticado por um indivíduo considerado “valentão”, que utiliza o mesmo idioma; ou por um grupo de alunos, com o objetivo de intimidar ou agredir outro(s) colega(s) incapaz(es) de se defender no ambiente escolar.
Os pais estão apavorados com mais esta violência e, os professores, desorientados e temerosos. Pessoas competentes na área de Educação, donos de colégios, políticos, autoridades, pediatras, psiquiatras, psicólogos, professores e magistrados são mobilizados, quando o fato aparece em estabelecimentos de ensino.
Em escolas públicas ou privadas, a maioria dessa violência passa despercebida, para quem não deseja enxergar o óbvio. Há sinais, indiretos e diretos, denunciadores. Tal modalidade de selvageria sempre existiu, apenas é subnotificada, seja por pretextos de ordem política, pública ou privada.
Um episódio do bullying veio à tona, envolvendo um conhecido educandário, e uma jornalista me telefonou, indagando: “O que o senhor acha, como psicoterapeuta de jovem, sobre a sentença de um Juiz, punindo severamente um desses agressores? O jovem mal completou 14 anos e o que vai acontecer se ele for preso junto com drogados e homicidas?”
Ao que lhe respondi: “Em decorrência da complexidade do tema, eu não poderia emitir uma opinião e aprendi que sentença de Juiz é para ser cumprida e, depois, discutida”. Com essa postura frente à matéria, a jornalista omitiu o meu nome, e tampouco publicou minha explanação improvisada. Esta é, portanto, a razão da presente croniqueta.
Via de regra, o(s) Magistrado(s) procura(m), em primeira instância, afastar o(s) agressor(es) do ambiente onde vive(m). Ao mesmo tempo, não desconhecem a precariedade das atuais regras penais.
Por dever de oficio, são vinculados a aplicar uma pena correcional ao(s) criminoso(s)/infrator(es), em reposta/defesa/profilaxia à sociedade, como pessoa(s) da Lei, apesar de, a maioria, estar ciente da precariedade correcional da pena aplicada.
Cabe ressaltar, no entanto, que jovens com condutas antissociais são fruto da sociedade em que estão engajados. É ela a responsável pela criação dos seus marginais. Sendo assim, faz-se necessária uma discussão ampla e pontual sobre o bullying. Tal discussão precisa ser mais que multidisciplinar, eu diria, tem que ser transdisciplinar dos saberes existentes. Apenas importar soluções de outros países, ou mesmo, de outros Estados, sem as devidas adequações, é bastante temeroso, uma vez que existe toda uma cultura local, com suas especificidades.
Portanto, devemos trabalhar para obter uma reposta para estes casos, dentro de nossa realidade. Devemos permanecer permeáveis, ainda, às medidas praticadas nas demais latitudes. É isto que o Diário de Pernambuco está procurando realizar, com seu Grupo de Estudos Contra a Violência, dentro dos muros das escolas, bem como nas periferias em que elas penetram.
Muito em breve, creio eu, deverá surgir uma indefectível Organização Não Governamental (ONG) especializada em violência escolar!

Bullying // Diários Associados vai discutir violência escolar




Bullying // Diários Associados vai discutir violência escolar

Muitas vezes escondido e restrito aos corredores das escolas, o fenômeno bullying agora está no centro das discussões dos educadores pernambucanos. Tudo graças a denúncias feitas por pais de oito alunos de uma escola particular da Zona Norte do Recife, na semana passada. Ciente de que, além de noticiar os fatos, a imprensa também deve cumprir seu papel social, o grupo Diários Associados promove na próxima sexta-feira, às 15h, uma mobilização em torno da violência escolar. O encontro acontece no auditório dos Diários Associados, no bairro de Santo Amaro, e é aberto a professores, diretores, pais e alunos. Na reunião, será criado o 1º grupo de estudos com foco em bullying do estado. Além de diagnosticar e identificar as características desse tipo de agressão nos colégios locais, a ideia é construir soluções eficazes no combate à violência em ambiente escolar.


Meraldo Zisman coordenará evento junto com diretora do Leitor do Futuro. Foto: Juliana Leitão/DP/D.A Press
A coordenação do grupo será dividida entre o pediatra e psicoterapeuta Meraldo Zisman e a diretora do programa Leitor do Futuro, dos Diários Associados,Conceição Cavalcanti. "No momento em que o bullying ganhou repercussão, é preciso fazer alguns questionamentos. Será que o problema da violência na escola está na criança ou no adolescente agressor? Será que o problema está na escola? Ou será que vem de casa? Com a criação do grupo de estudos, queremos saber sobre a nossa realidade, através de pesquisas, não de achismos", justificou Zisman, especialista em violência familiar e escolar. Ele participará de um chat amanhã, às 10h, no portal www.pernambuco.com.

Os interessados no encontro podem se inscrever pelo e-mail leitordofuturo.pe@diariosassociados.com.br ou através dos telefones 2122.7580 ou 2122 .7862, até as 19h de amanhã. As inscrições são gratuitas e voltadas a todos os profissionais de educação, além de pais e estudantes. "Os professores e diretores que vierem responderão a questionários, para a partir daí formarmos a equipe que estará à frente das pesquisas. Todos serão bem-vindos", afirmou Conceição Cavalcanti. O bullying, termo inglês utilizado para descrever as agressões entre alunos, foi criado em 1920. Ele é observado tanto em escolas da rede pública quanto em unidades da rede privada. Até meados do século passado, era um fenômeno escondido pela maioria das vítimas.

Sorria, você esta sendo filmado



SORRIA, VOCÊ ESTA SENDO FILMADO

Meraldo Zisman

Médico-psicoterapeuta


Foi a impressão que tive quando li a entrevista das “páginas amarelas”, na Revista Veja (14/10/2009), intitulada Caixa-Preta na Cirurgia, com o cirurgião paulista Dr. Ben-Hur Ferraz Neto, 47.
Apesar de minha longa carreira profissional com pediatra e atualmente como psicoterapeuta, o estresse diuturno da/na atividade cirúrgica é de estremecer. O entrevistado trabalha em um dos principais hospitais brasileiros. Concordo quando afirma que, por mais que a tecnologia evolua, jamais será capaz de controlar todas as inúmeras variáveis envolvidas num ato cirúrgico.
Na verdade, inexiste ação humana capaz de garantir em 100% o êxito ou a segurança, e muito menos máquinas competentes para reproduzir a vida do paciente em tempo real, com a pulsação, o sangue correndo pelas veias do paci ente e o movimento dos órgãos, isso sem falar da equipe cirúrgica.
Também estou de acordo com o entrevistado quanto à necessidade de o médico-cirurgião possuir uma personalidade resoluta, o que lhe permita tomar decisões instantâneas e criativas para salvar a vida do paciente, além dos atributos de conhecimento, treinamento, etc. O que não abarquei foi a ênfase dada pelo entrevistado quanto ao valor da existência de uma Caixa Preta na sala de cirurgia!
Na aviação, tudo bem. Em geral, vários fatores estão envolvidos na queda de um avião, como erro humano, equipamento, condições atmosféricas, etc., e os registros servem à profilaxia da repetição de acidente semelhantes, apesar de não ressuscitar os mortos.
Já imaginou, leitor amigo, se o piloto colocasse em votação entre os comissários de bordo e os passageiros, se deve ou não realizar um pouso de emergência? Assim como o comandante de uma aeronave, um cirurgião trabalha com auxiliares de diferentes graus de conhecimento. Raros são os atos cirúrgicos em que não se necessite de ajudantes, todos sujeitos às mesmas condições de Humanos. Ou será que o cirurgião, por ser cirurgião, não teria a mesma condição dos demais mortais? O cirurgião seria algum deus?
Como psicoterapeuta, tenho a impressão de que todos nós temos lá o nosso momento emocional capaz de influenciar a conduta profissional. Por outro lado, já imaginaram a sensação de um cirurgião — ao levantar os olhos do campo operatório e deparar-se com uma câmera ou outra geringonça com o letreiro: “sorria, você esta sendo filmado”? Isso não tornaria o trabalho ainda mais estressante? Como reagiria um cirurgi� �o sabendo-se vigiado por um Big-Brother?.
Em lugar da caixa preta não faríamos melhor se tratarmos o “narcisismo doentio que pode acometer um cirurgião ou qualquer outra pessoa?”. Quando um familiar ou amigo meu tem de se submeter a uma cirurgia prefiro não entrar na sala, para que a equipe cirúrgica fique mais à vontade.
Esta entrevista terminou por lembrar-me a letra de um antigo samba do Billy Blanco(1924):
"(...) Pra que tanta pose doutor? Prá que este orgulho...? O infarto lhe pega doutor e acaba essa banca”.
Graças a Deus, quem me socorreu, na hora do infarto, foi a ponte de safena.
Gostaria de lembrar, para concluir, a todos ( médicos e leigos): A Medicina é a ciência das verdades transitórias...!