sábado, 24 de abril de 2010

SALVEMOS OS PEDIATRAS E O HAITI


SALVEMOS OS PEDIATRAS E O HAITI

Meraldo Zisman

Psicoterapeuta




Apesar de a notícia da vez ser o terremoto do Haiti, tragédia merecedora da Solidariedade Humana e outros bla-blas, estranho é o fato de a mídia nacional, sempre tão atuante, não mencionar, nem de raspão, a falta de pediatras para atender aos brasileirinhos. Quantos leitores sabem deste fato? A Sociedade Brasileira de Pediatria, no meu tempo de atividade a mais numerosa entidade médica do Brasil, denuncia que um dos carros-chefes do Ministério da Saúde, o Programa Saúde da Família, não valoriza o profissional de Pediatria. O problema atinge, até, a nossa Versalhes (Brasília). A cena de Dante dos hospitais públicos repete-se na esperas pediátricas da rede particular. Não quero dizer que esse seja, exclusivamente, o motivo, mas como a maioria das crianças não ne cessita de procedimentos complexos nem de exames complementares, não há lucro pecuniário como, por exemplo, na Cardiologia, onde a consulta exige, no mínimo, um teste de esforço e um eletrocardiograma, cujo valor pode saltar para até R$ 200. Estou escrevendo enfatizando o lado econômico, pois a expropriação da Medicina é um fato na Sociedade atual. Democraticamente, a bagunça da medicina nacional (da criança), atinge precocemente tanto o setor publico quanto o setor privado — democraticamente.
Os acadêmicos de medicina, sabedores de como funciona o mercado de trabalho que irão enfrentar, optam por outras áreas, mais rendosas, que exigem melhor remuneração e menor dedicação: cirurgia plástica, dermatologia, oftalmologia, radiologia — sintomaticamente as mais procuradas nos concursos para a residência médica. Como professor titular aposentado pioneiro da Neonatologia Brasileira resta-me acautelar a quem de direito: da maneira como o barco vai, a Pediatra Brasileira é um animal em extinção. Como antigo Pediatra (hoje, sou psicoterapeuta), advirto: a criança é o pai do Homem e o pediatra seu advogado. E como (TUDO INDICA) iremos mandar equipes médicas para atender a vitimas do terre moto do Haiti, como seriam tais equipes, sem médicos de criança? Talvez esforços feitos para a não extinção desses especialistas sejam um bom elemento de marketing para a campanha nacional da crônica candidatura do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. É uma simples lembrança e uma sugestão de um médico de província. Desculpem qualquer coisa... de falar de política externa.

ARTIGO PUBLICADO NO DIARIO DE PERNAMBUCO - CADERNO OPINIÃO - PAG, A 19 - RECIFE, QUINTA FEIRA, 28 DE JANEIRO 2010

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